domingo, 12 de abril de 2009

Resenha "Ilusões Perdidas"

“Ilusões Perdidas”, o romance mais completo (e comprido) de Honoré de Balzac, aborda o mundo jornalístico da França do século XIX e a trajetória de um jovem chamado Lucien Chardon que, movido pelo desejo de subir socialmente na vida, ingressa nesse meio e acaba por achar desilusão.
Interiorano de origem, Lucien muda-se para Paris com sua amante, uma dama da nobreza, esperançoso de ficar rico e famoso com sua poesia. Chegando a Paris, é abandonado por sua amante, e fica sem saber o que fazer para conseguir dinheiro, essencial para sua sobrevivência. Conhece então algumas pessoas que trabalham no meio jornalístico e decide que esta é sua passagem para a fama. Sem saber, acaba por entrar num mundo corrupto, oportunista onde “a preocupação com a informação era, muitas vezes, quase inexistente”, nas palavras de Silvana Salerno, tradutora desta edição do livro e autora do Convite A Ler. Balzac, por ter vivido estas experiências na pele, é capaz de nos dar um relato bastante fiel, porém, um tanto generalizante do que significava trabalhar como jornalista nesta época. Transparece que o jornalista muda de opinião e de posição de acordo com a conveniência, com as vantagens apresentadas a ele. Lucien, movido por vaidade e pelo desejo de crescer socialmente e de publicar seu romance, frequentemente muda de convicções: ora é liberal, ora é monarquista; ora escreve uma crítica prezando, ora escreve uma desprezando o mesmo livro. O autor mostra que ética e pudor eram praticamente inexistentes neste ambiente egocêntrico. Sem dúvida, um reflexo da sociedade capitalista que se fixava, e deixava a entender que o bom caráter e a imparcialidade eram incompatíveis tanto com ela quanto com o jornalismo ou qualquer outro ofício. A traição, a troca de favores e a “compra” dos jornalistas, como Balzac procura mostrar, era algo banalizado; amizades se firmavam e se deterioravam de acordo com os interesses dos indivíduos.
As idéias apresentadas pelo autor podem ser facilmente aplicadas aos dias atuais, porém, em menor grau. Ainda existe corrupção, existe oportunismo, a grande diferença é que o livro de Balzac os expõe de forma explícita, obviamente a visão de alguém que conviveu diariamente neste meio e conhece suas obscuridades. Consequentemente, sua perspectiva é demasiada pessimista, um verdadeiro desabafo de um homem que viveu em tais circunstâncias e pode relatar as mazelas associáveis ao século 19 e ao século 21.

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